Deambulam pelas ruas
Deslocam-se para aqui para além
Conforme o toque do vento
Essa brisa suave fria
que lhes marca o rosto a face
Sim ao sabor do vento
Não sabem para onde vão
Nem porque se movimentam
Mas sabem que chegarão
A parte nenhuma
A um vazio intemporal...
Quem são?
Gente, pessoas!
Opção tão grata por ti escolhida,
Difíceis momentos que passas na vida,
Aquela mãe que a filha adora,
Vinham da Cerdeira àquela hora.
Interrompe-se a ida, assim de repente,
Choque frontal que grande acidente,
Hirto e firme, o bombeiro implora,
Levem daqui, a criança que chora!
Na ambulância alguém a conduz,
Acabou a esperança, seu raio de luz,
Descolorida, a mãe que jaz morta,
Pobre menina, que a bombeira conforta.
Uma menina que a outra transporta,
Até tem nome que nos importa,
Na mente outro acidente que ocorreu,
Pensa na avó que atropelada morreu.
Desígnios da vida, que crueldade,
Estradas portuguesas, que mortandade,
Choram as duas que pobre imagem,
Perdeu-se outra mãe, acabou a viagem.
Quis amar mas não sabia,
Distinguir o que era amor,
Sofri muito e, quando te via,
O meu coração tremia,
Aumentando o meu pavor.
Não sabia o que dizer
Pois aquilo que eu sentia,
Já estás mesmo a ver,
Sentimento p'ra valer,
Algo que eu não conhecia.
Num largo olhar, num lampejo,
Teu coração me seduz,
É a ti que eu desejo,
Ao acordar eu te vejo,
Fonte repleta de luz.
Sentimento? Não, loucura!
Batalha ganha a perder.
Livre? Prisão que perdura!
Dor, ciúmes, que amargura,
Amar tanto e tanto querer!
Fito o céu, eu vejo o mar
Tu numa onda com um véu,
Está turvo o meu olhar,
De em ti sempre pensar,
Olho o mar eu vejo o céu!
Sou da noite e vivo nela,
De dia suspiro a sonhar,
Só te vejo a ti donzela,
Não me apagues essa vela,
Á noite quando acordar!
Reinava a confusão
Naquela tarde de Agosto
Por causa da regionalização
E também dum fogo posto.
Rapazes vamos depressa
Anda o fogo no lameiro
Condutor toca a dar mecha
Directos a Vascoveiro.
Agarrada à escada
A bombeira vai segura
Percorrendo a estrada
Em cima da viatura.
O vendaval era grande
Fogo em mato rasteiro
De noite não há quem ande
O fogo chegou ao Pereiro.
É só barrocos Manel
Que andam aí a fazer
Regressem já ao Quartel
Vamos lá toca a mexer.
Quase em flagrante
Foi apanhado o imundo
Falem com o Comandante
Explicou o Segundo.
Não devem fazer queimadas
Nesta época de Verão
Senão ficam danificadas
As belezas da povoação.
Tu que me querias lançar as garras,
Que despropósito ou leviandade,
Liberto estou dessas amarras,
Eu que prezo tanto a liberdade.
A liberdade espiritual
No meu rebanho terei presente
Cativo estou, não te quero mal
Nunca cederei, só se demente.
Perdoa-me, sou bom cristão,
A Deus pertenço, é meu caminho,
Dá outro alento ao coração,
Encontrarás um outro ninho,
Sê consciente na reflexão,
Vai! Não te percas passarinho!
Morre a gente lusa, ficam os tais,
Neste abandono encanto de outrora,
Erram os políticos e outros mais,
Querem expulsar-nos daqui para fora.
A velha Troika mas que apagão,
Vai-nos ditando tamanha desdita,
A lapiseira trémula em minha mão,
Vai rabiscando o que a mente dita.
Bendita sejas nação que foi nossa,
Se um dia já tarde voltares a ser,
Lembra-te do erro que deixou mossa,
Para não o voltares a cometer.
Vendidos, comprados aos vendilhões,
Haja fé na imaculada Musa,
Salve, pátria ditosa de Camões,
Morram os chacais, viva a gente Lusa!
Quando o sol, do sono se espreguiça,
Raia no negrilho ou no carvalho,
Aurora vem, a natureza atiça
Vendo o aldeão a ir á missa,
Vai lavando a cara no orvalho.
E quando a seguir tudo escurece,
Vem a noite, a noite cálida, fria,
A bola roda e quando amanhece,
Eis a sucessão que nos entristece,
Vem outro, e outro, um novo dia.
E quando á tarde brilha e desce,
Na janela raia e descortina,
Há uma nuvem na minha prece,
Á noite no horizonte aparece,
Finda o fim de tarde, é a neblina.
É assim o astro rei na sua aurora,
Que volta sem pedir seja o que for,
Que vontade, que prazer tem ele agora,
Quente e tão afável ao ir embora,
Finda o dia, pisca o olho que esplendor.
Ao fim de tarde, a prima já espreita,
Feito foi, um pacto real entre os dois,
Um vigia enquanto o outro se deita,
Nunca se juntam na roda perfeita,
Agora na cama um, o outro depois.
Toda a constelação nos acompanha,
Tão harmoniosa, ó mãe natureza,
És cálice de vida que amanha,
Para que cada um de nós assim tenha,
Faculdade p'rã sentir esta beleza.
Fustigar-nos-ão outros ventos,
Seremos uma terra a vender,
São de crise os novos tempos,
Para gáudio dos jumentos,
Já não importa saber ler.
O mandarim velha escrita,
Que rabiscos p'rã aprender,
Será a nova desdita,
Vejo gente tão aflita,
Que mais nos fará sofrer.
Há muita gente perdida,
Outra que se governa bem,
A divida ao ser vendida,
Se não houver mais comida,
Será comprada por alguém.
È quase uma ilha esta terra de ilusões.
Que maravilhosa beleza encanto de país,
Este recanto que eu canto, é de Camões,
E de Bocage, assim se diz e rediz.
Grandes poetas, maiores feitos históricos,
Que salvou a nado o corajoso Luís,
Grande Vaz, de vícios alegóricos,
Há muito jaz, este rapaz de cariz.
Ao menos um, que da terra brote,
Traga poemas dentro de um pote,
Venha ver sua terra descarnada.
Senão venham os dois, ou um magote,
Todos os poetas, venham a trote,
Salvar sua pátria muito amada.
Se sem vento abana o mato,
O olhar turvo adivinho,
Sacio a sede no regato,
Da fraga corre o bom vinho.
P’rá frente e p’ra trás andando,
Sob o atento olhar do Sol,
As passadas vão falhando,
Chão duro, parece mole!
Sem trocos na algibeira,
Mas que grande borracheira,
Assim se pode chamar.
Inebriam-se os sentidos,
Já se foram os amigos,
Já se me turva o olhar!
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